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  • Time Gen-Z

“Eu lido com pelo menos UM homem machista por live”

Mulheres contam como o machismo afeta suas rotinas de jogos online

por João Ponciano, Lucia Oliveira, Antonio Neto, Nicole Pereira e Vinicius Cardoso



Quando perguntada sobre o machismo nos e-sports (Esporte eletrônico, termo usado para competições organizadas de jogos eletrônicos, especialmente entre os profissionais) e sobretudo na esfera dos streams, Giulia Bianchini, 18, explica como ele é recorrente: “quase que o tempo todo, sendo sincera. apesar de gostar muito das interações e de conhecer gente nova, quando você tá ali se expondo a desconhecidos você fica muito exposta a esses comentários. Eu lido com pelo menos UM homem machista por live.”

Assédio, humilhações e até mesmo ameaças de estupro são alguns exemplos de situações que não só Giulia, mas tantas outras mulheres que dão as caras em jogos online sofrem. “Existem momentos em que me afeta mais, especialmente quando é algo sobre minha aparência e coisas do tipo”, ela conta.

Mesmo com tantas adversidades, as mulheres seguem liderando o número de jogadores no Brasil. Segundo números da pesquisa Game Brasil 2019, elas representam 53% dos gamers do país. A pesquisa ainda aponta que 41% dos gamers considerados “hardcore”, ou seja, aqueles que jogam semanalmente mais de três horas em ao menos três ocasiões entre 25 e 34 anos, são mulheres. Considerando jogadores casuais, que jogam em períodos mais curtos, a maioria também é feminina, com 58% dos jogadores.

COMO EVITAR OS ATAQUES?

Para evitar os ataques machistas nos jogos, as táticas são muitas: Sessões de jogos apenas com mulheres, volume no zero para não ouvir comentário algum são apenas algumas. Uma das mais comuns é o uso de nicknames (apelidos usados nos jogos) masculinos, para que outros jogadores te vejam como homem e trate a jogadora com respeito. A prática incentivou o surgimento da hashtag #mynamemygame (meu nome meu jogo em português) criada pela ONG Wonder Woman Tech (WWT) em janeiro de 2018 para incentivar outras mulheres a usarem seus nomes ou nicknames que as agradassem, sem se importar com o tratamento de outros jogadores.

Já para reprimir os comentários, Giulia conta que costuma bloquear de cara: “O máximo que já aconteceu, e não foi na stream em si, mas durante um jogo, foi ir atrás do pai do garoto que foi machista comigo. No final, sempre toma ban (ato de bloquear, comum em jogos online) independente da "gravidade" porque não dou abertura pra nenhum tipo de comentário machista.”

A respeito do posicionamento das grandes empresas a respeito dos ataques machistas, poucas são capazes de resolver o assunto de forma satisfatória. Os exemplos de condutas oficiais duvidosas são muitos, como o caso da streamer Gabi Cattuzzo que após sofrer ataques machistas, respondeu dizendo: "Sempre vai ter um macho f*dido para falar m*rda e sexualizar mulher até quando a mulher tá fazendo uma piada, né?" e, em seguida, "É por isso que homem é lixo". Após o comentário, a Razer, empresa de acessórios para games que patrocinava a streamer informou que o contrato com ela não seria renovado, mas também não tomou providencias acerca dos comentários que levaram a resposta de Gabi.

No fim, mesmo sofrendo diariamente e sem o apoio das grandes empresas de jogos, Giulia e tantas outras mulheres continuam suas lives da forma mais normal possível. “O mundo é machista desde seus primórdios, né? Então eu já sabia o que eu estou arriscando ao abrir cada live, antes mesmo de ser streamer eu já sabia que enfrentaria essas situações. mas nada me impede de continuar, infelizmente essas coisas já fazem parte da rotina das mulheres”, finaliza Giulia.


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